A desigualdade no crédito e seus impactos sobre os mais pobres
- Lines & Lessa

- 21 de jan.
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No Brasil, o acesso ao crédito é uma ferramenta essencial para o consumo e a melhoria de qualidade de vida, mas o custo dos empréstimos é significativamente mais alto para os mais pobres. Isso se deve a uma série de fatores que ampliam a desigualdade financeira no país, como revelou um estudo conduzido por pesquisadores de diferentes instituições.
O trabalho foi assinado por Marco Bonomo (Insper), Tiago Cavalcanti (Universidade de Cambridge e EESP-FGV), Amanda Fantinatti (EESP-FGV), Fernando Chertman (Banco Central do Brasil), Andrew Hannon (Banco Central Europeu) e Cezar Santos (BID e CEPR). A análise foi destacada pelo jornal Valor Econômico na edição de 21 de janeiro de 2025, trazendo reflexões importantes sobre como as práticas bancárias ampliam as desigualdades no país.
O estudo analisou como as instituições financeiras impõem juros adicionais às operações destinadas a pessoas com menor renda. A justificativa oficial gira em torno do maior risco de inadimplência nesse grupo. Contudo, especialistas apontam que a realidade é mais complexa, envolvendo variáveis estruturais e práticas do sistema bancário que perpetuam a exclusão financeira.

Como o risco é calculado
O cálculo dos juros utiliza ferramentas como o “score de crédito”, que mede a probabilidade de inadimplência com base em históricos financeiros. Pessoas de baixa renda ou com menor instrução financeira tendem a ter scores mais baixos. Outros fatores considerados pelos bancos incluem a renda mensal do cliente e seu histórico de acesso ao crédito. Essa metodologia, no entanto, não leva em conta o contexto socioeconômico dessas populações, agravando a dificuldade de recuperação financeira.
Curiosamente, mesmo indivíduos com empregos formais e salários baixos enfrentam taxas de juros mais altas. O estudo revelou que trabalhadores que recebem até dois salários mínimos pagam, em média, 51% a mais em juros quando comparados a consumidores de maior renda.
Fatores que ampliam a disparidade no crédito
A desigualdade no acesso ao crédito é influenciada por uma série de fatores adicionais:
Garantias insuficientes: Pessoas de baixa renda raramente possuem ativos que possam ser usados como garantias, o que aumenta o custo do crédito.
Histórico financeiro limitado: Muitas vezes, esse grupo tem pouca interação com produtos financeiros formais, dificultando a construção de um histórico positivo.
Exclusão de produtos acessíveis: Empréstimos consignados, que possuem taxas mais baixas, não estão disponíveis para trabalhadores informais ou autônomos.
Consequências estruturais da desigualdade

Para especialistas, essa disparidade no acesso ao crédito é um reflexo de desigualdades históricas e estruturais que dificultam a mobilidade social. Como destacou um dos especialistas citados no estudo, “quem é mais pobre tem menos opções, tem que erguer as mãos ao céu se consegue crédito”. Esse ciclo de exclusão financeira limita o consumo e inibe o crescimento econômico nas camadas mais vulneráveis.
Enquanto isso, consumidores de maior renda têm acesso a condições mais vantajosas, incluindo melhores taxas e maior poder de negociação, perpetuando a concentração de riquezas.
Caminhos para um sistema financeiro mais inclusivo
Diminuir as desigualdades no acesso ao crédito exige mudanças estruturais. Algumas soluções propostas incluem:
Inclusão financeira: Expandir o acesso a produtos financeiros acessíveis para populações vulneráveis.
Educação financeira: Promover programas que ajudem a população de baixa renda a entender e gerenciar suas finanças.
Revisão do sistema de crédito: Adotar uma abordagem mais inclusiva, considerando indicadores além do score de crédito tradicional.
O sistema financeiro tem um papel crucial na redução das desigualdades sociais e na promoção de um crescimento econômico mais equilibrado. Reformas nesse setor poderiam transformar o crédito em uma ferramenta de inclusão, fomentando o consumo e promovendo o desenvolvimento econômico sustentável.
Se bem implementadas, essas mudanças podem mudar o panorama econômico do país, convertendo o crédito em um instrumento de empoderamento para as populações de baixa renda, em vez de um fator de exclusão.




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